Desde o século VIII os japoneses se reúnem sob as árvores para contemplar as flores de cerejeira e a sua existência de curta duração. O hanami é uma apreciação prolongada da natureza e da beleza fugaz da vida. As flores,literalmente também simbolizam novos começos – o dia 1 de abril é o primeiro dia do ano financeiro e acadêmico no Japão.
Se no Japão a florada da cerejeira é celebrada tradicionalmente no inicio da primavera,aqui no Brasil é no inverno que elas florescem em um mar de rosa. Muitos são os ritmos de suas estações e as cerejeiras com suas flores de cores mutáveis inspiram pintores, poetase artistas – fragrâncias foram criadas em sua homenagem, perfumes femininos, macios e floridos.
A primeira casa de perfumaria que se inspirou na flor de cerejeira foi a John Gosnell&Co. Ltd.Fundada no século XVII, a empresa só decidiu se dedicar exclusivamente à fabricação de cosméticos e perfumes em 1769. O perfume Cherry Blossom foi lançado em 1853, uma fragrância feminina que teve sua produção descontinuada.
Cherry Blossom
John Gosnell&Co (1853)
Um perfume gentil e bonito. Tão real e irreal ao mesmo tempo – parece que saiu de um filme dos irmãos Lumière.
O curioso é que as flores de cerejeira não têm cheiroe não lembram em nada os perfumes que levam seu nome – Cherry Blossom, Sakura, Fleur de cerisier, estes são interpretações perfumadas da flor, um tributo a sua rara beleza. As flores reais são etéreas e delicadas, têm um perfume verde e fresco com leve sotaque de terra e mel. Uma flor afável com pétalas cor-de-rosa que o vento levae…
Os japoneses têm um verdadeiro amor pela sakura, à medida que a primavera se aproxima tudo vai ficando cor de rosa. A expectativa é grande,a contagem regressiva fica por conta da previsão do tempo transmitida pela TV – a Cherry Blossom Forecast oferece uma análise pétala-a-pétala do avanço das flores. Meses antes os varejistas já entram no clima e mudam suas vitrines para o modo sakura – supermercados decorados com flores de cerejeira anunciam as novidades comestíveis com sabor da flor.
A Liberdade é um tradicional bairro japonês da cidade de São Paulo que reúne restaurantes, mercados, lojas de mangás, camisetas, quimonos, chás, sombrinhas, enfim uma quantidade de coisas que não dá nem para imaginar. O “modo sakura” é quase inexistente nos arredores,mas na rua Galvão Bueno encontramos uma doce surpresa – na doceriaKanazawa além dos tradicionais wagashi você pode experimentar aquele que é considerado o melhor sakura-motchi (doce de arroz com flor de cerejeira) do Brasil.
O hanami nos leva para além dos sentidos –deitar na grama, em baixo das árvores e ouvir o som de milhares de abelhas é uma experiência quase indescritível. A ciência nos informa que assim que a abelha chega à flor ela faz um ruído agudo, mas à medida que ela vai escalando as anteras e se encaixando na flor ela diminui a freqüência do zumbido – isso faz com que a flor vibre na freqüência certa necessária para liberar o pólen e o saco de grãos.
Talvez seja apenas o som da Mãe Natureza fazendo Om.
Ah essas viagens internas que fazemos pelo mundo dos sentidos, aromas que ficaram impregnados na memória …